quarta-feira, 14 de julho de 2010

Os oito miles.

O alpinista português que coleccionou os picos mais altos, os chamados "oito miles", fascina-me. Conseguiu um feito só ao alcance da coragem e da persistência de alguns muito poucos a saber, subir a todos esses "oito miles" e sem a ajuda de oxigénio. Não deixa de ser um homem com objectivos na vida como os demais, sendo como são objectivos algo mais espectaculares do que o habitual.
E porém, toda esta conquista, toda esta subida não nasce de golpes de génio, de afortunadas coincidências, de inusitadas junções de palavras. O alpinista em questão não é um pintor ou um poeta. É um homem extremamente metódico que já viu a morte várias vezes à sua frente. E cada pico obriga a meses de aturada preparação. João, fodeste-me a metáfora! Que já antes prejudicada estava, sendo que a poesia não dispensa o método, a pintura ainda menos.
Sim, eu já terei tido a minha casa em África, e já terei trepado alguns "oito miles". Ou não? Não como o João, nem pensar. As melhores coisas na minha vida foram rápidas e assim como vieram também foram. Tempos de melhoria foram tempos em que, após a escalada, após o espanto do panorama, ficámo-nos pela montanha, ar puro e isso. Comida adequada, exercício, nada de vícios, nada de desvios. Hoje vivo ao lado duma "six-lane".
Os meus "oito miles"? 1983, 1993, 1996, 1998, 2001. Mais? É possível que tenha havido, talvez naquele intervalo de dez anitos, ali pelo meio...
Os tempos de bonança, bom tempo assim descrito, em acumulação chegaram a um bom par de anos, talvez mais. Fazendo a cosedura dos retalhos e aqui e ali buscando os melhores dos tempos que na posta restante ficaram, instantâneos polaroid. Nunca a lenta preparação foi o meu forte. Não sei bem qual é o meu forte. Rodando, não o tenho sequer. Onde estou agora? Avariou o altímetro. Que merda...

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