domingo, 11 de julho de 2010

Hardware

O problema deve estar no hardware. Só pode. Ainda há pouco, passava eu ali junto ao Boavista e pensava: o problema... o problema.... e ele estava ali, o enunciar o mesmo induzia logo à minha frente o desenho de uma nebulosa de ângulos, curvas e contra-curvas... que eu não consegui descortinar bem ao esforçar-me para passar o sinal que entretanto ficara amarelo. No trânsito como na vida, condicionamos comportamentos, e talvez por isso eu não esteja bem a ver o problema. Conduzo muito e com nervo. Podia andar de metro.
Mas o hardware é o que há, é o que temos. A caixa, o disco duro, os periféricos. Depois há o malware. E depois ainda há o "nowhere to be found", ou melhor, corrigindo a brincadeira, o que eu quero dizer é que devo ser sim pedaço grande, avantajado de "noware", pois que, para todos os efeitos, sucede-me pensar que não existo.
Vejamos o hardware. Consiste nesta máquina genética que nasceu da colisão entre a minha mãe e o meu pai, assim de simples. Utilizo a palavra colisão porque, quando eles ainda não tinham entrado no chamado modo passivo de viver, viviam a discutir. Não terá sido nenhum big bang  mas foi uma colisão, tenho a certeza. E nascido de uma colisão, só posso ter saído retorcido, e ferruginoso. Quem de mim beba saber-lhe-á a sangue mas não, engano puro, o sinal metálico será apenas aquele som cósmico de fundo que lembra o primeiro nanosegundo. "Quem de mim beba" é uma expressão bonita mas codifica este texto como impróprio para menores de dezoito anos pelo que corrijo: quem me queira lamber estas feridas que trago comigo, agora sim, muito mais literário, se calhar que uma das feridas seja no pénis ou equiparado "azarete", o literário não se compadece com pudores alheios, e uma ferida é uma ferida, um corte no espaço-tempo und so weiter. E logo no pénis um portal do espaço-tempo na forma de um corte de meio cm., hã? Sorte!
Continuando no hardware: o disco duro. "Não consigo limpar o disco duro como queria". Eu não quero limpar o disco duro. Limpá-lo é simples. Décimo andar, não olhar para baixo, queda. Pode haver algumas sequelas no que diz respeito à caixa do computador mas... está limpo o disco! Como alternativa, deixá-lo estar assim, cheio da merda "q'ouve", "comida para o pensamento" como diziam os UB-40 antes de se dedicarem ao alcoolismo soft. Pastas e pastas e pastas transporto comigo. Folhas agrafadas, furadas, etiquetadas, alfinetadas. Este tipo de arrumação é adrede, os dossiers foram atirados para uma curiosa panela como aquelas das bruxas, uma espécie de sopa primordial, mexe-se mexe-se e vem à tona o dossier disto, o dossier daquilo, companhia nunca me falta. Incómoda companhia, mas é a minha. É a que quero e busco.

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