quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Hate Mail.

Não há como reler algumas cartas antigas de ódio para animar o povo nesta fase de incerteza revolucionária. "Não passas de um medíocre, de um mau carácter, de um mal formado." Nem tu sabes quanto, filha.
Sou medíocre sim, no que escrevo, no que penso, no que faço. Outro nível haveria mas não consigo lá chegar e hoje já é tarde demais, hoje 2010. Vou sobrevivendo, como as medusas navego nas ondas do mar do meio e se te aproximas pico, maltrato, queimo. A mais ninguém faço eu pior do que a mim mesmo, em convívio diário com o meu veneno.
E sou um mau carácter, confesso. Já bati num carro e não deixei bilhete. Foi numa fase em que não tinha dinheiro nem para o arranjo do meu. Já mijei duma janela para a rua. Mas quem passava por baixo não era como eu careca, nem notou. E foram apenas umas poucas de gotas. Por outro lado só não desfaço tudo à porrada porque nunca fui bom a dar porrada. Já lá dizia o filósofo: "...o Homem com frequência porta-se bem apenas porque não pode portar-se mal..." ou uma merda assim. Guardei um teu antigo passe do autocarro. Desculpa. Foi mesmo sem querer.
E sou um mal formado. Eu explico, visto teres comido algumas vezes à mesa de meus pais e não te teres queixado: falarás portanto daquele pequeno desvio para a direita que... Olha, nunca pareceu que atrapalhasse, pois não? Uma coisa garanto eu, não há mais forma. Não há mais nada a fazer, a refazer, a desfazer. É isto. O desvio é ligeiro, não aumentou, ninguém mais se queixou.

E... pensando bem, o meu problema, sabes, é que hoje era dia de não pensar e pensei. Ñão parei de pensar, assim inteligente como o urso Pooh, "pensar, pensar...". E nem o ler a tua carta velha de catorze anos me ajudou em nada.

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