quarta-feira, 28 de julho de 2010
O comando, os comandos.
O comando funciona mal para entrar e bem para sair. Podemos daqui retirar a imagem de que eu não devia era entrar e a saída ser o sentido mais adequado. Até porque o outro comando que mantenho funciona à perfeição. Sim podemos. Tudo podemos. Mas tenho entrado sempre. As imagens que se criam também se desfazem. Não há almoços grátis, mas almoçamos diariamente. Comparamos? Comparamos.
Os níveis também se entrecruzam, descem, sobem. Vejam aquela canção originalmente de Marvin Gaye mas que de novo conheço cantada por Paul Young: "Wherever I Lay My Hat That's My Home". Never more true. As casas, as casas, as casas. Sempre me senti a espaços um intruso nelas. Mas nem sempre. É me difícil aliás fazer o balanço da posse de bola, se mais posse do Intruso F.C., se mais...
Agora onde estou ainda não sei o que sinto. Não sei. E vou tardar em saber, já percebi.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Tu não me consegues ver da VCI.
Este que se intitula é uma verdade inverdadeira, pois o avançado amarquisado que brota do meu quarto vê-se e eu providenciei para que mais visto ficasse, uma das janelas sempre bem aberta.
Em tudo há um querer, um não querer. Que em querendo, vê-se.
É a chamada visão baseada na evidência...
O arroz.
Está feito o arroz. Há coisas que nunca esquecem. Repito, e repetirei: vai-se sucedendo o anedotário, as histórias são uma atrás de outra versadas em filme, a um ponto chegaremos onde faltará argumento, ou argumentos. E aí, mano? Fez falta meio caldo Knorr, é certo.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Carmen, mulher a dias.
As mulheres. Contratei uma velha conhecida minha de outras festas para as limpezas. Devo estar a pagar-lhe bem acima do mercado, pois como mais-valia tenho arrumação da casa, fazer de camas, correcções de decoração, etc., etc. Claro que, eu sei, a minha profissão chama por estas coisas, nunca se sabe quando lhe devolverei a dedicação, pensemos em receituário e outras animações. Mas efectivamente eu gosto desta mulher, conheço-a há q'anos. E julgo que haverá aqui um dedo de dedicação, de amizade até, e quase todos os dias da semana quando chego a casa esta "está feita", retocada, como se um pouco de base tivesse disfarçado as rugas e brechas desta confusa assunção de tábuas.
Mulher que me presta um serviço, e eu pago. So? Apresentem-me uma relação que não tenha um grão de comércio e eu afirmarei que o irreal existe mostrando com ambas as mãos o milagre: é ali, é ali, nunca tinha visto tal coisa...Carmen, obrigado. Sabes onde te deixo o dinheiro.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Faça o acidente você mesmo.
Não há silêncio. Não há. Fluem os carros da VCI em curva à minha mão esquerda, de dia e de noite. Também não há acidentes. Não. Ouviria. Nada. O acidente sou eu. Nisto também só estou cá eu, amigos.
Patamares
Protestas. "Eu ainda não fiz isto!" Logo fazes. "Nem aquilo!" E fazes. "Falta-me uma última coisa!" Que é feita. "E...". Interrompo-te: "Não era a... última coisa?" Chegamos a todo o lado, não há limites nem barreiras, o que estava por fazer acabará inapelavelmente por acontecer. A última e final fronteira um abismo ao qual não poderás escapar, subindo. Para onde voarias, caídas as asas de anjo que nunca foste, nem existem, "não é verdade, rapaz?"
Não, minto, um esvoaçar de asas eu ouvi há muitos anos, brevemente, e logo não ouvi mais...
Época de caça seria.
Não, minto, um esvoaçar de asas eu ouvi há muitos anos, brevemente, e logo não ouvi mais...
Época de caça seria.
Cadeira com rodas
Aluguei um apartamento a um paraplégico. Isto leva a que o apartamento tenha determinados pormenores que decorrem da limitação do utente anterior. Todas as bancadas, as da cozinha, as da casa de banho, foram rebaixadas. Os estores são automáticos. E mais nada de diferente há. Quartos dois, pequenos e encharcados em luz e calor pelo sol poente, todos os dias. Uma varanda pequena no meu quarto, amarquisada, uma estufa cuja utilidade está por descobrir. Uma sala irregular, extensa, com ângulos e recantos e muito "janelame". Um terraço virado a norte e poente, que eu chamo o "terraçolinha" por razões que eu decido como óbvias e portanto não explico. Cozinha idem, prática, material o mínimo. Muita luz, e espaço. Muito tempo. Nenhum tempo.
Há uma diferença entre cadeira de rodas e cadeira com rodas. Descobri-a recentemente. Sentas-te e descobres que a cadeira que te ofereceram parecia normal mas tem rodas. Veio com rodas.
"Ponho-te uns patins...". Na realidade patins tinha sido mais giro, sempre tinha aprendido alguma coisa para depois praticar com a filha...
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Do The Right Thing.
"Do The Right Thing" é um filme de Spike Lee que eu vi há muitos anos no cinema. O primeiro filme de Spike Lee era uma comédia de costumes in black & white, "She's Gotta Have It". "Do The Right Thing" defende o direito ao motim, quando este se justifica. Eu defendo o direito ao erro, quando este se justifica. Passo a explicar. Uma das minhas imagens favoritas é a dos movimentos brownianos. Convém de quando em vez recordar em que consiste a base da coisa para que não se perca o pé nos raciocínios: "o movimento browniano é o movimento aleatório de partículas macroscópicas num fluido como consequência dos choques das moléculas do fluido nas partículas". Pode parecer que o meu caminhar em tudo se assemelha a estes movimentos brownianos, onde uma macropartícula realmente vai daqui até ali como resultado do sucessivos integrais das forças assimétricas que a rodeiam, não tendo vontade própria no seu caminhar. Não. Posso tentar outra imagem? Lembro-me de ler os textos de farmacologia e chegar à conclusão que a velha ciência anti-inflamatória consistia simplesmente em sucessivas tentativas e erros: os vários anti-inflamatórios eram equipotentes se adequadamente doseados, esta ou aquela pessoa respondiam melhor a este ou aquele fármaco, era só experimentar. Apresento-vos a rapariga ibuoprofeno, além está o rapaz nimesulide. Vamos deixar a lógica inflamatória mais seus antídotos e derivemos para o vocábulo "dor" e respectivos analgésicos. Doi-me esta alguma coisa, e remite, e repete, e reproduz-se dia após dia. Analgesia? Vamos tentando, vamos tacteando. Hoje erro, se calhar amanhã não.
Perdi-me do raciocínio que se iniciava no Spike Lee. Isto dos movimentos brownianos sabe-se lá onde acabam por levar... Se o meu principal motivo de percurso é a analgesia mais profunda, busco que a medida que meça o que sou, e portanto medirá o que faço, acuse um baixo índice de maldade conscientemente buscada e acontecida. A correcção não obriga ao acerto, eu sei. E a demasiada às vezes aborrece.
E porém, peço alto e em bom som o meu direito ao erro, pois que, à minha maneira, tento.
P.S.: o fotograma acima não tem nada a ver com o filme do Spike Lee.
P.S.: o fotograma acima não tem nada a ver com o filme do Spike Lee.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Os oito miles.
O alpinista português que coleccionou os picos mais altos, os chamados "oito miles", fascina-me. Conseguiu um feito só ao alcance da coragem e da persistência de alguns muito poucos a saber, subir a todos esses "oito miles" e sem a ajuda de oxigénio. Não deixa de ser um homem com objectivos na vida como os demais, sendo como são objectivos algo mais espectaculares do que o habitual.
E porém, toda esta conquista, toda esta subida não nasce de golpes de génio, de afortunadas coincidências, de inusitadas junções de palavras. O alpinista em questão não é um pintor ou um poeta. É um homem extremamente metódico que já viu a morte várias vezes à sua frente. E cada pico obriga a meses de aturada preparação. João, fodeste-me a metáfora! Que já antes prejudicada estava, sendo que a poesia não dispensa o método, a pintura ainda menos.
Sim, eu já terei tido a minha casa em África, e já terei trepado alguns "oito miles". Ou não? Não como o João, nem pensar. As melhores coisas na minha vida foram rápidas e assim como vieram também foram. Tempos de melhoria foram tempos em que, após a escalada, após o espanto do panorama, ficámo-nos pela montanha, ar puro e isso. Comida adequada, exercício, nada de vícios, nada de desvios. Hoje vivo ao lado duma "six-lane".
Os meus "oito miles"? 1983, 1993, 1996, 1998, 2001. Mais? É possível que tenha havido, talvez naquele intervalo de dez anitos, ali pelo meio...
Os tempos de bonança, bom tempo assim descrito, em acumulação chegaram a um bom par de anos, talvez mais. Fazendo a cosedura dos retalhos e aqui e ali buscando os melhores dos tempos que na posta restante ficaram, instantâneos polaroid. Nunca a lenta preparação foi o meu forte. Não sei bem qual é o meu forte. Rodando, não o tenho sequer. Onde estou agora? Avariou o altímetro. Que merda...
As mopas da manhã.
Pelo muito trabalho que me tem acontecido, com frequência amanheço na companhia feminina de uma senhora duma empresa de limpeza que todos os dias se dedica a optimizar a dita limpeza da sala onde trabalho. Descreve-la-ei como "ainda jovem", expressão detestável, até porque desconheço por completo se ainda se me poderá aplicar a mim. Usa óculos e tem uma expressão corrida, discreta, algo ansiosa. Hoje de manhã comentou-me que "as mopas ainda não tinham subido", o que manifestamente estava a atrasar-lhe o trabalho, e mais algumas considerações fez sobre horários e organização dos (seus) serviços, tudo isto enquanto limpava o chão, os tampos das mesas, os teclados dos computadores, eu não, que não qualifico para ser objecto de limpeza, não pertencerei ao seu roteiro de trabalho. Respondi algo ininteligível, acho, o que correspondia ao meu grau de prontidão naquele momento.
Vou tentar saber o seu nome, acho sempre que se conhece melhor alguém quando lhe sabemos o nome, mínima transacção que se faz num instante, e não esqueçamos que esta vida não é mais do que uma feira onde tudo se troca, compra ou vende, a bondade ou a maldade do gesto transitário dependendo do sujeito... e do horário...
domingo, 11 de julho de 2010
Hardware
O problema deve estar no hardware. Só pode. Ainda há pouco, passava eu ali junto ao Boavista e pensava: o problema... o problema.... e ele estava ali, o enunciar o mesmo induzia logo à minha frente o desenho de uma nebulosa de ângulos, curvas e contra-curvas... que eu não consegui descortinar bem ao esforçar-me para passar o sinal que entretanto ficara amarelo. No trânsito como na vida, condicionamos comportamentos, e talvez por isso eu não esteja bem a ver o problema. Conduzo muito e com nervo. Podia andar de metro.
Mas o hardware é o que há, é o que temos. A caixa, o disco duro, os periféricos. Depois há o malware. E depois ainda há o "nowhere to be found", ou melhor, corrigindo a brincadeira, o que eu quero dizer é que devo ser sim pedaço grande, avantajado de "noware", pois que, para todos os efeitos, sucede-me pensar que não existo.
Vejamos o hardware. Consiste nesta máquina genética que nasceu da colisão entre a minha mãe e o meu pai, assim de simples. Utilizo a palavra colisão porque, quando eles ainda não tinham entrado no chamado modo passivo de viver, viviam a discutir. Não terá sido nenhum big bang mas foi uma colisão, tenho a certeza. E nascido de uma colisão, só posso ter saído retorcido, e ferruginoso. Quem de mim beba saber-lhe-á a sangue mas não, engano puro, o sinal metálico será apenas aquele som cósmico de fundo que lembra o primeiro nanosegundo. "Quem de mim beba" é uma expressão bonita mas codifica este texto como impróprio para menores de dezoito anos pelo que corrijo: quem me queira lamber estas feridas que trago comigo, agora sim, muito mais literário, se calhar que uma das feridas seja no pénis ou equiparado "azarete", o literário não se compadece com pudores alheios, e uma ferida é uma ferida, um corte no espaço-tempo und so weiter. E logo no pénis um portal do espaço-tempo na forma de um corte de meio cm., hã? Sorte!
Continuando no hardware: o disco duro. "Não consigo limpar o disco duro como queria". Eu não quero limpar o disco duro. Limpá-lo é simples. Décimo andar, não olhar para baixo, queda. Pode haver algumas sequelas no que diz respeito à caixa do computador mas... está limpo o disco! Como alternativa, deixá-lo estar assim, cheio da merda "q'ouve", "comida para o pensamento" como diziam os UB-40 antes de se dedicarem ao alcoolismo soft. Pastas e pastas e pastas transporto comigo. Folhas agrafadas, furadas, etiquetadas, alfinetadas. Este tipo de arrumação é adrede, os dossiers foram atirados para uma curiosa panela como aquelas das bruxas, uma espécie de sopa primordial, mexe-se mexe-se e vem à tona o dossier disto, o dossier daquilo, companhia nunca me falta. Incómoda companhia, mas é a minha. É a que quero e busco.
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