sábado, 25 de dezembro de 2010

E preparemo-nos para um novo ano.

Portanto iremos migrar para um novo blog, até porque, depois da depredação feita às minhas árvores protectoras eu sou, e fácilmente, visto da VCI, assim queiram.

Meus senhores e minhas senhoras, foi gira a viagem.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quarta-feira, de manhã.

Toda esta lua cheia que eu acabo de admirar, é a mesma de ontem à noite? Noite iluminada... Então há mesmo coisas que permanecem, coisas que estão, e coisas que, apagando-se no horizonte de um dia, sabemos, voltarão.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Domingo.

Aconteceu a tardia manhã, fez-se cinzenta a tarde, e agora é de noite.
Em paz estive, e dela não saí, apesar dos múltiplos apelos, das apontadas soluções.
E tudo porque estive em boa companhia.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Body? I have no body... I have no body at all!...

É impossível na língua portuguesa em que nos movemos encontrar uma expressão que não se divida e caminhe para dois lados ao mesmo tempo. Tal a expressão "não mexer"... que pode querer dizer "estar quieto" e também "não tocar"...
Podemos portanto dizer que eu não mexo por duas bandas...

Tocar, toca...

Podemos então apor a esta minha pequena casa o nome de "A toca do lobo", a "longa" toca de um lobo que só desperta enquanto animal feroz de dez em dez anos, e que nos intervalos sorri, o sorriso tratado numa amiga dentista, e vai dizendo: "Lobo? Eu? Je? Moi?"

Não, a verdade é que não sou animal predador de médio porte nenhum...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Agora já me consegues ver da VCI...

Podaram as duas árvores que me defendiam da VCI. Não podaram, mutilaram irremediavelmente as duas árvores que me defendiam da VCI. Vejo e sou visto como antes não. Tudo é mais claro, transparente. Combinou-se o Natal, falta a passsagem de ano, o dito Ano Novo.
Moro agora bem mais do que antes in a room with a view. Progride-se ao nível da transparência para o exterior, o que me parece inevitável. E para dentro?
Confundem-se/me os verbos. Oque eu quero, o que eu desejo, o que eu preciso.
Sei que ontem não dancei porque não tinha com quem dançar. Isto eu sei. Sei pouco mais.
Navego portanto à vista, a que me começa, um pouquinho, a estar em falta. Rejeito o longo prazo. Que é o mesmo prazo contra o qual todos os meus projectos se desenham. Portanto não rejeito o longo prazo. Rejeito pensá-lo. Estou aliás cansado de pensar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Suf menos...

Why do I fail myself (and others, even more - others!) so often? Falhar, não chegar lá começa a ser um vício. Faltar à palavra dada também...

Tortozendo, ermezinde...

Vamos então aprender? Vamos então crescer um pouquinho? Vamos? Ó pá, está bem, mas... aprender o quê e crescer para onde?
Difícil nestes tempos incertos é evitar desaprender, fugir aquela molha que tudo encolhe...

Linhas rectas? Não, eu sou assim tipo tortozendo, vou ficando torto em crescendo...

O meu braço direito.

A decisão está tomada, e nem me arrependerei muito. Vou dar o meu braço direito. Porque, não digo. A falta que me fará? Não muita. Abraçar pode-se abraçar com um só braço, se com força. E abraça-se muito bem com os olhos. Sou canhoto de nascimento, e o meu escrever contrariado é basicamente ilegível. Se bem treinado poderei transformar a minha letra esquerda, que sempre mantive, de escassa e imberbe em algo que se veja. Parece-me um bom negócio, e estamos em tempos de não ceder espaço ao que não é essencial: o meu braço direito.

Não te esqueças, usa-o bem. Ou então vende-o. Sei que conseguirás por ele um bom preço.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma ficção sediada em Alfena.

É tarde, não vem ninguém. Faz frio fora, deve ser isso. É tarde.

Estou sentado nesta minha cadeira de barbeiro a ler o jornal, a ler aquelas notícias de segunda linha que o dia ainda não me permitiu ler. O mundo está virado de pernas para o ar. O mundo não está bem.

Em outros tempos estaria não sentado mas de pé e a tosquiar alguém, e com um ou dois clientes sentados e à espera. Falaríamos sobre esse mundo que congela lá fora, distribuindo queixas. Pequenas queixas, nada que se pareça com os problemas de hoje. Toda uma barbearia tenho eu aqui, todo um espaço que afinal se aproxima a passos largos de ser um museu, um espaço arqueológico. A trinta metros o Paulo, conheci o pai, vi este miúdo crescer, intitula-se cabeleireiro. Eu não, sou só barbeiro. Deixa-me ver se me escapou alguma coisa no Desporto.

Antes a casa estava pintada de novo e não tinha este aspecto lúgubre. As couves e o resto do terreno à volta estavam bem cuidados. O anexo não parecia arruinado. Eu sei que dupliquei as portadas, foi-me exigido. Mas pintar a casa de novo, lavar a cara a isto, a este caixão antecipado… não vale a pena. Vejamos a necrologia.

A minha filha tem vergonha de mim. Trabalha num banco. Ela diz que manda, que é directora e muito amiga deste e daquele, que rápido subirá ainda mais… O marido é uma besta e não são felizes, eu sei. Mas, enfim, de que palavra me fui eu agora lembrar, onde está escrito que a felicidade é um direito, sequer um objectivo plausível… A minha filha não é feliz, mas esse não é o verdadeiro problema.

Ela tem um único filho. O pobre rapaz é maltratado por ela e ignorado pelo pai. Verdade seja dita que eu também não lhe acho grande piada, sempre constipado e com medo de tudo. Eu sei que esses medos todos são presente dela, mas que posso eu fazer… A minha mulher, a quem eu carinhosamente chamo de “Monstro”, acha que ele vai ser um grande homem. Para tal convinha começar a esticá-lo…

Não acredito que alguma vez a minha filha tenha contado a quem quer que seja lá no trabalho que o seu pai é barbeiro. Eu sei isto porque o miúdo já se descaiu mais do que uma vez sobre como “a mamã falou ontem com um ministro” e “amanhã se calhar vamos jantar com um secretário de estado que também é visconde”, ora eu sei que ela não conhece ninguém desse estilo. Compreendo um pouco que ela pretenda passar um pano sobre isto, Alfena, a barbearia, as tesouras, os caldinhos. Passar ou colocar sobre, ocultar, um banco deve ser um mundo de aparências, um teatro, um jogo de marionetas, e a minha filha nem é particularmente bonita, nem particularmente inteligente. Mas exagera. Tudo o que ela é a mim o deve. A mim… e um pouco ao “Monstro”. Não sei bem a quem foi ela buscar mais o dom para a mentira. Ah, pois, eu sou militar, ou melhor, sou um sargento, que é uma classe à parte. Os sargentos levam o que de melhor a vida militar oferece. Só é preciso mentir aos oficiais e dar-lhes a ilusão de que são eles que mandam… Terá sido em mim que ela foi buscar a vocação, portanto.
A minha filha tem-me parecido mais nervosa que o habitual. Os bancos não estarão bem, porque o país menos ainda. Não é ela quem o diz, é este jornal, que eu já li umas duas vezes. Acho que vou para cima. Hoje já não vem ninguém. Melhor que não a despeçam, pois antes até a podia empregar aqui na barbearia, a fazer umas unhas, cuidar duns pés. Agora não. Não há movimento.


O Continente sediado em Ardegães.

Por questões circulatórias terminei ontem no Continente do Maia Shopping a fazer compras. Continente que serve sobretudo a anexa cidade de Ermesinde. Já fiz muitas compras neste hipermercado, num século anterior. A galeria comercial que está anexa melhorou bastante, idem o espaço de alimentação. Se a Bertrand do Parque Nascente foi fechada, aqui subsiste. É possível que Ermesinde leia mais do que Rio Tinto. E depois, há Alfena…

Gosto de rever as listas de compras de uma incursão num Continente. Define o humor com que entras, o humor com que sais. Eu saí bem disposto. Não tinha entrado assim. Se sem muita gente, e à crise posso agradecer estas benesses, a circulação num hipermercado pode ser até divertida. Mais ainda num onde não eram feitas compras há anos.
A miúda que me atendeu na caixa chamava-se Sabina. Esqueço-me às vezes que hoje por hoje pareço um velho. Ao terceiro tom de voz “próprio-para-velhos” fechei a voz, paguei e vim-me embora.
Transcrevo:
“Sab. Confiança /Sab. Lavanda / Sab. Ach. Brito (x4) / Sab. Veleiro 125 / Sab. Hid. Coco / Sab. Chipre Flor / Iog. Crem. Swiss (x3) / Iog. Crem. Danone / Iog. Fram. Swiss / Compal Essencia / Doses Fr. Compal / Iog. Biol. Vrai /Med Espinafre / Gel. Magnum / Filetes Panados / Pizza 5 Minuti / Bijou 45g (x6) / Las. Mondas Bui /Broas Cast. 350g”
Sim, sabonetes. Todo um fetiche. Calma, não me caem das mãos... E broas Castelar. Uma pizza para micro-ondas. Sabina, miúda, bom feriado. Pelo que vejo lá fora o dia está frio mas agradável, bom para celebrações, comunhões, baptizados, etc.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

A depressão que nos entra.

"Quando passo vários dias assim sem poder sair entra-me uma depressão..." Este era o meu pai, ao telefone, quarta ou quinta-feira.
Quando entra a depressão? A resposta está acima: quando há alguma coisa que repetidamente tu queres fazer, e queres e queres, e não podes. Essa coisa, realmente ou inventadamente, aparece-te como o eixo equilibrador, o prumo que faltava, o caminho que era o teu mas onde a porta se fechou. Para o meu pai sair é a chave. Sair. Que verbo! A esta hora que escrevo sei que o meu pai já saiu.
Aos oitenta e três anos, que haja verbos daqueles bons (sendo "Sair" só um exemplo) cuja conjugação ainda me seja possível, eis o que desejo. Senão...

domingo, 14 de novembro de 2010

Tiara.

E o que fica? Da ciência nada, do resto esperemos que muito pouco. A ano de 95 conseguiu cumprimentar-me sem ódio. Já não me lembrava do seu rir.
Li algumas publicações sobre o juízo, a prudência e a temperança. E saíram os resultados sobre um estudo randomizado duplamente cego sobre a solidão e a ingestão de omega-3. Por fim uma palestra about Plato! 'Te foder, Platão...

Vamos?

Vamos esquecer as metáforas à Fernando Tordo. Vamos esquecer as estranhas simetrias. Segunda feira vai entrar para um bloco operatório o ventre de onde saiu a minha filha. Operação final que torna terminal, fim de linha, um aspecto da viagem havida. Há muitas formas de parar. Ainda mais outra aqui encontrámos. Que vida!
Achei, um pouco desconvencido, mas achei, que esta doença do meu pai, surda, mal apresentada, algo confusa, podia ser o princípio do fim do útero paterno que esse também existe, e mais forte se torna com os anos. Afinal não. Não há simetria desta vez. O meu pai já está em casa e bem, aproximadamente.
Não há alegria sem culpa. Mas senão fosse assim, não haveria alegria, é o que tenho aprendido. E eu preciso desesperadamente de voltar a ser alegre, ser contente, ser eu gente normal e para cima bem disposta...

Da felicidade não falo.

Carta à minha filha sobre os namoros e outras merdas - parte um.

Meu amor:

Com certeza notaste o uso inicial da palavra acima. Se puxares pela cabeça e fazendo algumas contas pensarás para ti mesma: " ele raramente me chama isto!" Na verdade te digo que se contam pelos dedos as pessoas a quem eu chamei tal coisa. E porquê? Porque o amor é a maior das incertezas, aquela hipótese suprema que sempre fica até ao fim dos nossos dias por confirmar - e mesmo aí...
 Agora em relação a ti não, as dúvidas não estão, porque o amor paterno é uma certeza inamovível, uma rocha inquebrável, uma caça de altanaria que jamais quebrará o pescoço e se verá derrubada até ao chão. Amo-te imenso, minha filha. Como? Não sei dizer, porque não encontro comparações. E amo-te na exacta medida que sei que o futuro nosso, teu e eu, implica uma prematura ou tardia mas certa separação, porque a vida tua algum dia me impedirá de seguir a teu lado pelo mesmo caminho que vais.

Lentamente o teu corpo entrou em mudança. Escrevo isto e entro com toda a força por dentro de uma frase feita, sem a criticar. Está a mudar a tua cabeça. E o teu corpo com ela. Mudam ambos lenta mas inexoravelmente. E não há marcha atrás.
Aprecio o facto de a tua mudança ser algo mais lenta do que a de alguma das tuas amigas. Gente mais nova que tu já é menstruada. Ou modelou formas onde em ti ainda só há como que uma menina bem feita...
Importo-me o mesmo com isto que tu, isto é, nada. Terás o teu tempo, e isto agradeces, parece-me. Aqui - e eis um defeito mais destas avaliações - o meu património genético está a fazer a sua mossa, pois a minha puberdade foi muito tardia. Para puderes comparar com algum dos teus coleguinhas, o teu pai só mudou a voz aí pelos 17, quando adquiriu este metro e setenta e dois que define o seu Suf mais corporal que irá levar até à cova, descontando o encarquilhar das vértebras que acontecerá daqui a uns vinte anos, ou isso, é certo.

Sim, já reparei, tu achas piada aos miúdos com piada. Assim fui eu achado, muitos anos. Mas fora isso ausente, incorpóreo.
Isto quer dizer que o teu pai só teve a primeira namorada aos dezanove anos e quando já frequentava a faculdade. Serve esta história, que é realmente a verdade, como exemplo de nada. Pode-se começar a namorar aos doze, aos dezasseis, aos vinte e três. Eu comecei aos dezanove e pronto! Como aquela que viria a ser a minha primeira esposa, levada ao altar e tudo. Após cinco anos e meio de tormentoso e confuso namoro.

Aqui faço a ressalva sobre o facto de nunca te termos contado, a tua mãe e eu, que ambos casámos uma primeira vez antes de casarmos nós um com o outro. Não sei porquê, embora possa adivinhar, a tua mãe achou sempre que era cedo para contar. A verdade é que um casamento - como é óbvio - não teve nada a ver com o outro, nem acresce nem diminui. Quando em 88 casei pela 1ª vez fui ver como era, como seria, como será, enfim, já era tanto aquele namoro que também, sem coroa de louros casamentada, parecia-me desperdício. Havia também uma pressão do outro lado para sair de casa e fazer vida. E assim foi feito. Ao fim de três anos de casamento lembro-me de ter celebrado sózinho que a partir dali o divórcio seria mais fácil, porque não obrigatoriamente litigioso - a lei de então. Aos quatro anos e pouco saí de casa. Vamos aqui fazer um pequeno intervalo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O relógio.

O relógio DeBorla ora funciona ora não. E a sua hora coincide com a de mais ninguém. A metáfora identificativa é tão óbvia que a evitarei.
Porém, como separar-me dele, relógio de nome simpático nos dias que correm, relógio meu irmão?

Last stop to ballet town!

Make Dinner & Listen



Eis a combinação que tem funcionado ultimamente: eu faço o jantar enquanto a minha filha lê-me a matéria da disciplina do 7º ano de que vai ter teste no dia seguinte e que devia ter estudado ou preparado no seu ATL pago a preço de ouro, mas não preparou nem estudou.
Tem resultado mais ou menos.

domingo, 7 de novembro de 2010

Antes da endoscopia uma palavra ou duas...

Cresci a não gostar de ti. E dizer isto é pouco, muito pouco, para definir a minha infância e a minha relação contigo.
Ainda me lembro quando Maio passado eu meditava sobre como iria reagir a minha filha à minha separação e o algum consolo que resultava de saber-me tão a ti unido quando tão mal nos tinhamos tratado um ao outro quando novos. Sim, teria eu oito anos quando tu tinhas a minha idade e só me lembro de discussões sobre discussões sobre discussões. Nunca estive do teu lado, como podia?... estava a ser educado para a vida pela mulher com quem discutias. Eu tomava parte e gritava também, de baixo para cima. Gritava contigo. Eu sabia que eu era a única razão para vocês continuarem juntos. As discussões aconteciam quase sempre no corredor longo da Heliodoro Salgado, pois ligava a cozinha com a escada que dava para a porta da rua. Na cozinha a minha mãe, a porta da rua por onde entravas, por onde saías pouco depois outra vez.
Saías de casa à noite, batias a porta forte, antes tinhas jantado sem uma palavra. Cheguei a odiar-te, um ódio pequeno de criança que não compreende porque afinal o destino lhe deu tão pouco pai. E não me lembro coerentemente de um gesto de carinho teu. Lembro-me aliás de como eras manso com alguns primos meus mais pequenos, e ter ciúmes, ou, pior ainda, apenas não entender, ficar surpreendido.
O castigo veio ao virar da esquina. O desemprego, o dependeres da mulher que tinhas maltratado. Esperares mais de um ano por um subsídio de desemprego, vários anos por uma reforma paupérrima apesar  de quarenta anos de trabalho.
Antes tinha acontecido o maior terramoto da minha vida, lento como os humanos tremores de terra são, um lento deslizar, imparável mas quilométrico. Deixei de falar com a minha mãe. Quando? Porquê? Não me lembro, juro. Foi muito, muito antes de o meu corpo mudar. Foi muito antes de muitas coisas, coisas pelas quais devo ter decidido esperar em silêncio e sem ninguém a meu lado, e assim foi.
Tu entraste na minha vida bem mais tarde, pelos tempos da faculdade, quando se começaram a atrapalhar alguns caminhos na minha vida e, se tinha que comunicar alguma coisa em casa, era a ti que escolhia comunicar, e fazía-o com meia palavra. E tu entendias. Comecei a agradecer-te em silêncio a facilidade dada.
Separei-me pela primeira vez em noventa e três e voltei a viver contigo, convosco, durante dois anos. Não tinha horários, e não vou explicar porquê. A minha mãe estava completamente desnorteada com os acontecimentos.
Tu preparavas-me o pequeno-almoço todas as manhãs. Dizias-me para ter cuidado. Acho que foi por aqui que o nosso pacto se estabeleceu. E ficaste a ser a pessoa mais importante na minha vida, ressalvando a filha que tenho. Eu sei que ao escrever isto ignoro a mãe que ainda tenho. Mas a ela a vida abriu-lhe a cabeça aí por meados dos oitenta e ainda não voltou a fechar por completo. Esta é outra história, e para outro dia. Tu és hoje alguém com as mãos limpas, sem uma mancha de sujidade nos teus últimos vinte anos, tens mais de oitenta anos, os olhos atentos, a ideia certa. Pareces-me um homem admirável. Gostaria de envelhecer com metade da tua qualidade. E contigo estou em casa. E conheces-me como ninguém. E sou o teu médico.
Precisava que não tivesses nada grave agora. Mesmo. Vê lá se consegues afastar essa grande doença mais uns anos, por favor. A falta que antecipo vai ser enorme. Por mim, e é por mim que o peço, este teu tão fraco e pobre filho que raramente acerta uma, peço-te que fiques bem mais uns anitos.

Ainda temos tanto para não falar...

domingo, 31 de outubro de 2010

Afinal a mais pequena das explicações.

O riso. A justa lágrima. Os dois olhares, que mais haverá. O peixe nocturno de que já falei. A louca hipótese de ser a tua casa e sobreviver a isso. E mais, muito mais.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DeBorla.

O relógio DeBorla não pára de funcionar... há doze horas!

Osmose?

Depende do que se lhe queira chamar. Eu digo que aprendo. Que adquiro. Que aumento a colecção. Por osmose será. Parasitismo puro, a outra versão. E continua. Portanto o Porto continua a entrar pela porta aberta. Até quando. Não acabarei portista, a tanto não chegaremos. Nem sei como acabarei, mistura de mistura da mistura. Porque as boas coisas ficam para sempre. Como alguma que outra vogal cantarina de Trás-os-Montes a terminar a palavra. As alheiras. A paixão definida por uma cidade sediada a Noroeste e onde vou voltar, garanto. O aceitar da chuva e do frio e da noite precoce porque estamos A Norte. Havia uma rapariga que usava cerejas como brincos. As histórias passam por mim e ficam. Muito melhores do que qualquer uma outra que eu algum dia invente.

domingo, 24 de outubro de 2010

Some came running.

Chamo um dos meus filmes preferidos, e que me faz perdoar a Shirley MacLaine tudo o que de menos bom ela tenha depois decidido fazer. Onde também residem Frank Sinatra e Dean Martin. E a mão boa de Vincent Minelli. Um filme que é uma lição desesperada.
Fui correr para o Parque da Cidade. Não tem nada a ver com o filme, eu sei. Ó pá, que se fôda. Não corria, quê, há vinte anos? Então como subscrever o que vou dizer: eu gosto de correr. Sempre gostei do pisar ritmado da corrida, do corpo a, através das pernas em ritmo, bater na terra, no piso, na pedra, e a seguir, progredir, subir, descer, curvar, sacudindo as coisas que eram tuas antes das primeiras passadas. E dos braços, dos ombros, das orelhas, vão caindo essas coisas, agora reduzidas a nada, merda que alguém depois pisará.
Regra número um: não voltes atrás para as apanhar. Neste caso, estás dispensado de apanhar as cacas.

O estado da nação.

Tomei dois Seinfelds, fiz a diagonal do suplemento Babelia e do Viajero do El País - tantos, mas tantos sítios onde não irei! - e agora vou tomar um chá. O primeiro chá em meses. This ought to mean something... but it doesn't.

As boas tábuas.

Hoje, pela primeira vez em anos, jantei sózinho com os meus pais. Havia assuntos para tratar que, no fim do jantar, tratados foram.
A meio da comida, um coelho bem preparado pela minha mãe, olhei à minha volta. Ser-me-ia impossível voltar a viver ali. Mas morrer, fazer a lenta despedida, morrer sim. Aquela casa tinha o peso, o silêncio, a matéria certa para os longos tempos que é como são, as mais das vezes, aqueles que são os últimos. Não será assim, e a solução final que irei encontrar quando me encontre com esses tempos, será sempre uma segunda e imperfeita opção.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Astronomy

To see the moon and the stars, indoor version!

Faria Guimarães mesmo.

Em Faria Guimarães morei, durante a semana, num quarto pequeno tipo águas-furtadas ano e meio de faculdade.
Lembro-me da rua bem porque me lembro do seu trânsito. Ainda sem túnel, começavas a ver o autocarro lá em baixo e demorava uns bons dez minutos antes que ele subisse e chegasse até à paragem intermédia onde o apanhavas para ir jantar a Economia, por ex.
Havia um Multibanco no Marquês, e era o fascínio de ir levantar dinheiro com o cartão da namorada, que não o tinhas. As compras escassas faziam-se num Modelo ali logo acima. E a Baixa ficava à mão de semear, mais os seus cafés, o Aviz, o Ceuta, o Imperial. O Piolho nem por isso. Para jantar bem o ISCAP. E as noites por vezes eram longas...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Do calor de uma casa.

O calor de uma casa mede-se como? E na casa o das gentes?

Faria Guimarães e um fim.

Em Faria Guimarães moravam os pais de. Fiz-me funcionário dos TLP - ainda se chamaria assim a empresa - para obter um contacto telefónico que posteriormente me serviu para convidar para jantar a pessoa de que não falo. Mereci parte do ódio que depois veio. O pai era uma jóia de homem, conheci-o em alguns almoços de "família". Era homónimo de um ex-Presidente da República. Um dia esteve perdido para os seus só porque desapareceu com umas estrangeiras a quem o carro se tinha avariado. Voltou noite dentro, o carro consertado, sem mais, as estrangeiras como se filhas dele. Era uma figura simpática, redonda, calada, tímida. Não a mãe, uma pequena mulher que o era também do seu nariz.
A bondade - no sentido de "as coisas que são boas" - reside nos recantos mais escuros. O dia que fui buscar as minhas coisas à Maia, donde tinha saído, pela primeira vez vi na casa abandonada um retrato destes pais. A dor induzida levara ao refúgio e à busca da tábua de salvação. Sendo que o porto mais óbvio era em Faria Guimarães.

Faria Guimarães...

Ou terá sido a Rua de Camões? Há 27 anos desci uma delas na mais plena das euforias. Comia não sei que bolo mas é provável que fosse uma bola-de-berlim, era o meu bolo preferido nessas épocas, ofereci-o rua abaixo a toda a gente que passava, parei de oferecer quando acabei de o comer. A pé fui apanhar o comboio para São Bento, que me soou nesse dia como da Vitória, São Bento da Vitória, explico. Tanto aprendi depois, ou não, se calhar não sei nada de nada, como então não sabia. Pequena a vitória desse dia, isso sim aprendi.
Ainda que pequena, apetecia uma que outra vitória, aqui ou ali...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

As Horas Extraordinárias.

Para mim foi sempre uma canção. Sempre. O mote acima é muito antigo. De quando ouvia Sérgio Godinho e acreditava, de quando algumas palavras que eram ditas me pareciam ser à uma as primeiras e as últimas.
Hoje já não é assim. A canção mais ouvida na minha playlist chama-se "As Despesas Extraordinárias". Tem várias frases chave e a rima é perfeito, diz qualquer coisa sobre quem está primeiro, e claro que isto vai acabar por rimar com dinheiro, algum dinheiro, não tanto assim mas o bastante para que o colarinho sofra, o sorriso se desfaça. Falamos de várias coisas, nenhuma delas desprezável, todas elas com a sua necessidade em deriva de coisas que se foram acumulando num tempo em que o dinheiro era mais. Caprichos? Ná. Um violoncelo 3/4, um aparelho para a fileira superior de dentes da, o arranjo definitivo da galeria de para que a sua venda seja.

Um IRS dois meses seguidos é dose. E ando escasso de tupperwares.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

E...

fez-se noite.

A volta ao quarteirão.

Às vezes a casa - esta de que tenho falado - não aguenta mais a minha presença e expulsa-me. Sou então obrigado a ir dar uma volta. Dar uma volta é um hábito bem enraizado nas pernas portuguesas, mas habitualmente a volta tem um vago objectivo, um trajecto levemente preferido, insinuado, ou declaradamente assumido. Há quem vá sempre até uma ponte admirar um rio, a um mirador perder de vista razões passadas que obrigaram a que a volta fosse dada. Saí sem objectivo nenhum. Nada.
Outra coisa a companhia. Um cigarro? A música? O telemóvel mágico? Tudo isto e mesmo assim...
Vivo numa terra que é inclinada, que está inclinada. Alguém a inclinou e assim foi ficando. Inclino eu com ela, confesso. E passo por lá, pela inclinação de que falo, e que dá nome e projecção a esta cidade, património da humanidade e mais além! Não conhecendo o processo da canonização ao detalhe só esta me parece poder ser a razão para tanta entronização, este sítio curioso e ímpar, em que toda a terra, torrão a torrão, um planeta inteiro, inclina, numa suave vertigem.
Não consigo olhar. Grande saída, grande volta!
Aliás, nem posso olhar.


O médico proibiu-me e eu obedeco.

Ensaio sobre a tristeza.

O que fazer com toda esta tristeza que nos acontece? Que nos tem tomados, ausentes, expedidos para um outro país. Será que podemos dividi-la em partes e assim… relativizar? Será que podemos explorá-la, deitá-la, descê-la do cimo daquela árvore e cedê-la àquele jovem que passou agora mesmo, com certeza ele poderá carregá-la bem melhor do que nós, eu tenho mesmo a certeza…

Outra hipótese seria publicá-la, anunciá-la com disfarce mas sim, ser ela, pedir uma universal ajuda, tendo em atenção e considerando, desenhar cartazes do tamanho de um país erguido para que os outros países vejam e se ponham completamente a pensar, como, como a solução…

Também podia tentar-se atirá-la para uma garagem, simular um suicídio, aquela coisa dos gases de combustão, embora esta palavra mesma me demore e atrapalhe, pois somos nós quem arde e está em combustão, somos nós quem em lume brando vai servindo – a quem? – de alimento…

Decidi apelar às mais altas instâncias, por isso mal vejo um sítio por onde subir, trepar, elevar-me ao mais alto - lá as procuro, essas estranhas e consideradas instâncias de recurso, e nós sabemos com eu sou insistente, existente, assistente diário a toda esta nossa tristeza a descer pelas ruas, perder-se das janelas dos carros, a saltar para os pátios e parques de estacionamento, e ser mil vezes pisada e manter-se, e seguir em frente.

Eu acho que é demasiada esta nossa tristeza, sabes, embora pense que um peso assim só nos pode beneficiar, fazer músculo, ajudar a secar rios, drenar pântanos, recuar as águas para que um mar um dia seja atravessado, e ainda bem e tal, mas eu acho, desculpa, que é demasiada e, se não te importas, da tristeza digo, queria fazer um outro truque qualquer e abdicar desta coisa de ver o fundo do mar, o fundo do mar vermelho…

Também podemos fingir que ela não está, que é fim-de-semana e foi para a aldeia, que é de noite e só ataca de dia, que é dia e só da noite devemos ter receio, enfim, jogamos, viramos a mesa, algum golpe baixo deve servir, rodar os circadianos, saltar os meridianos dos fusos horários e atrasar a sua chegada, antecipar a partida…

Enfim, eu percebo, agasalha, protege, completa. Corrige, afronta, isola. Não podemos despedi-la, mandá-la embora? Não podemos…
Estamos nesta sala, vamos, que seja uma qualquer sala, tiramos a mesa, as cadeiras, eis a nossa tristeza espalhada por todo o chão.

Por este andar, ela veio mesmo para estar e não ir embora, ela ficou mesmo senhora de todo este espaço que somos. Mas, pedaço a pedaço, eu sei, tu eu fazemos dela uma coisa mais pequena…


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vela.

Uma vez mais hoje velarei para que alguém adormeça bem e assim fique.

Oaristos.

Vivo hoje por hoje na Rua Eugénio de Castro, certo? Poeta do século XIX da corrente simbolista cujo primeiro livro se chamava... "Oaristos"! Nem mais...
Que caralho quer dizer "oaristos"?

Oaristo (vem do grego...): "Diálogo entre marido e mulher. Entretenimento íntimo, colóquio terno."

Oh, foda-se...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Outra vez a banca da livraria Calendário.

Como passa o tempo. As estações, cúmulo de dias; a chuva, os ventos alternantes. Olho lá para fora e vejo um momento de acalmia. O tempo o faz e desfaz, este intervalo em que te escrevo. Chego à conclusão que já somos velhos conhecidos, que um do outro as superfícies já se gastaram de tanta proximidade. Resistentes ao toque, et pour cause. Gastamo-nos ou conservamo-nos um ao outro? Em manobras arriscadas os nossos barcos têm falhado sucessivas balizas, desenhando piruetas marítimas tão aplaudidas quanto ineficazes. Desconhecemos a pontuação, em que lugar vamos, onde terminará esta corrida de resistência, que em si é o próprio rio. Consta que se segue uma zona rápida, dizem que as pedras perigosas são ali mais para diante.

Bah, isto é nada. Tudo passa, os dias, as marés, a dor depende, a insónia também depende. Mas a dor desperta e a insónia corrige qualquer euforia de ocasião.

O tempo é tudo, as folhas caem, é Outubro, outra vez a Calendário monta a sua banca, o fundo-de-catálogo onde apareço eu também, esqueço-me em que página, sob que referência.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ficha Técnica.

"Ficha técnica: estas fotografias foram feitas com uma câmara GT-S8000 pertencente a um telemóvel SAMSUNG, nos meses de Agosto e Setembro deste ano. O telemóvel foi comprado este ano a um amigo porque a mulher dele não se adaptava ao touch screen, e o pagamento foi feito através dum cartão-presente daquela-loja-que-vocês-sabem, em valor que me dispenso de enunciar, para a esposa.

Abaixo decanto de uma tabela Excel os valores de exposição e velocidade fotografia a fotografia – não é fácil meter fracções numa tabela Excel – valores que decorrem das opções a que a câmara chama de “cenário” que usei, a saber: festa/interior, luz de fundo, e nenhum. Vendo as fotografias é fácil adquirir onde se usou que opção.

(...)

E pronto, está feita a ficha técnica."

The Child.

Let me tell you a story...

O telescópio.

Enquanto a revolução acontece cá dentro e lá fora, a minha filha vai serpenteando por entre estas convulsões sociais, e aparentemente decidiu que  quer ser astrónoma.
E foi desencantar um telescópio que in illo tempore me foi oferecido, um muito razoável telescópio, que nunca tinha merecido montagem nem experiência.
Porquê? Pela mesma razão que há uma óptima Canon 500 EOS por aí parada bem como uma impressora nova de fotografia por estrear. A ausência de diálogo ou de intersecção, como o queiram pôr, pode começar no detalhe mais pequeno dos dias e ir terminar nos mais imaginativos, sentidos e valiosos presentes. Curiosamente tais presentes foram sempre derrotados por eu achar que "não havia condições". Esta é uma expressão parva, concedo. Por condições explique-se uma cabeça em perpétuo balanço, logo como observar as estrelas, montar ou exibir isto ou aquilo... Suponho que o que se aplica a esta margem deverá servir também ao abandono recíproco contralateral.
Bom, a minha filha quer ser astrónoma. O telescópio foi montado. Sexta-feira de noite não conseguimos ver nada, nem estrelas, nem vizinhas nuas, nada. Ela desmoralizou. Ontem de tarde, antes de ir trabalhar, estive a tentar afinar a mira. Felizmente depois meti-o para dentro de casa, com a borrasca hoje já não havia telescópio. Terça-feira voltaremos a tentar.
Curiosamente a astronomia foi uma discreta aficción minha de adolescente. Julgo ainda saber algo mais sobre as estrelas e seu mundo do que o vulgo. Enfim, eu seu mais sobre praticamente tudo do que o vulgo, uma maldição que me persegue. Sobre mim se disse que ter-me "em casa" dispensava ter a "enciclopédia do costume, bastava perguntar-me"...

E no entanto não sabia o que era uma "adrasta"...

Resumindo e concluindo e citando...

"Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos..."

sábado, 2 de outubro de 2010

Mas...

Casar é pensar que se pode ficar por ali... para sempre. É. E nesse sentido falhei. Só desta vez. Mas falhei, está falhado. Siga.

Seis mil palavras - o fim.

"Vivo aqui na talvez primeira solução de vida de qualidade para ricos desta cidade do Porto, desenhada com o cuidado e a atenção ao detalhe que os anos a seguir não conseguiram replicar. Fui abraçado pelo incessante trânsito de quem por esta cidade passa e se redistribui. Informaste-me que durante bons anos toda esta qualidade foi ilegal . É justo. Assim esta minha separação, assim o primeiro apartamento em que vivi com alguém, na idade da pedra polida. Moras aqui bem perto, mas a milhas náuticas da agora minha casa. E não moras. Chamas-lhe o teu “domicílio fiscal”. Com esse teu peculiar sentido de humor, que rima com o teu andar cuidado como que sabendo que alguém vigia, mais um disfarce teu. Ou é apenas o difícil diálogo que te acontece entre os teus pés e a tua coluna?

Descobri então este apartamento que arrendei. Tem um espaço aberto a norte e poente onde bate o sol ao fim da tarde, por entre as folhas de umas árvores enormes que, do chão, três pisos mais abaixo, chegam até cá cima e me entram pelo terraço adentro. Vivo num hall de quatro apartamentos dos quais dois estão desocupados, e o terceiro alugado a gente que pouco pára por aqui e já me informou que o seu arrendamento – olha, também – é uma solução temporária… mas viver não é em si uma solução temporária? Depois de um mês de hotéis, guardo do Hotel Douro, ali na Boavista boas recordações. Só para citar e dar exemplo. Vida de hotel…

Comecei aqui então a recolher e distribuir pelos espaços as coisas que afinal me definem. Somos as coisas que trazemos connosco quando estas coisas acontecem. Um filme recente com o Clooney tratava disto, ou talvez não. A minha lógica de mochila será um pouco diferente, ou outra a metáfora. Curiosamente distribui, acarinhei e usei para decoração presentes e coisas e objectos que levavam anos encaixotados, perdidos, desprezados. Oferecidos vários por quem abandonei. Mas eu sabia, eu sabia que aquelas coisas iriam um dia ser importantes para mim. Seria não só eu a saber? Hoje fazem parte desta nova paisagem que criei. Sei que este apartamento por outro lado é uma afirmação, um discurso que eu faço contra o meu passado, e contra este presente anulado que tu és morando a cem, duzentos metros de mim. Quem aqui venha olhará para as minhas soluções (!) decorativas, pueris umas, adolescentes outras, e, antes de se lançar num protocolo de desqualificação, perguntará – porque nunca disseste a quem de direito que querias as coisas assim? Primeiro, a quem de direito é uma expressão que abomino. Segundo, a resposta estará algures em cima de muitos papéis, num qualquer escrito naquela letra ilegível que uso, ou se calhar naquela tinta transparente que, eu sei, também uso, mas uma pequena parte estará também no facto de, há muitos muitos anos, eu ter tido um apartamento onde morei sozinho algum tempo. Um amigo meu desse mítico espaço e tempo foi meu doente há poucos meses, e, simpático e predisposto a isso por real amizade e pela sua saúde estar nas minhas mãos, disse que aquele “apartamento” de então tinha sido para ele uma “referência”. Ele é casado com a namorada de então, e tem duas filhas. Enfim, é um bom rapaz… portanto, “referência”? Passaram demasiados anos, manhãs e tardes, e noites também.

O que se perdeu nestes anos? Nada, nada. Palavra que responde sempre a tudo que tão usada se torna. Tive bastante cuidado em não repetir as piadas decorativas de há quinze anos. Os estores sem janela por trás, os quadros pintados por mim à pistola com recortes do “Expresso” a decidir o tema… Mas este é agora o meu muito amado ninho deste difícil momento em que estou. Nas enésimas visitas a apartamentos que fiz a malta das imobiliárias julgava agradar-me dizendo “todo mobilado”! Aí já a minha cabeça estava a pensar “próximo!”. Construi-o contando os tostões. Afinal, agora estou a pagar duas casas, como que um imposto que se paga por ser livre. Consigo. Sou um privilegiado, admito. Chego aqui e sinto-me em casa minha. Em nenhum outro lado isso hoje acontece.

(...)

Portanto a história é esta, e contada nestas fotografias que coloco à avaliação de quem de direito. O fazer de uma casa. De uma vida. O refazer desta, melhor dito. Que aquela de novo se fez. Objectos. Olhos que vêem e não vêem nada. Que voltam a tentar. Que se fecham e só voltam a abrir no dia seguinte. E ainda não vêem nada. Para isto não era necessário grandes meios técnicos, disponíveis mas não necessários, assim me pareceu. Foi dada prioridade a uma mensagem – ahah, a mensagem! -, que explicitei no que escrevi antes. Falei de um ano que passou ou talvez nem um ano, nove meses. Saltemos por cima da metáfora fácil. O trimestre de que primeiro falei sendo o terceiro, primeiro, como escolher? A ordem das fotografias não é temporal. O que eu escrevi acima também não é denotativo e objectivável. Vão ter de acreditar em mim. E saltei para trás e para a frente. Disse “não vou falar mais disto”, e falei. Disse “vou esquecer”, e lembrei. Contei a história de pessoas vivas, embora a morte fosse invocada mais do que uma vez. Como disse o Marquês de Sade, citação que abre um romance que agora estou a ler, “je ne sui pas heureux, mais je suis bien.” Quando disse isto, estava preso. Estas fotografias tratam da construção deste estado de bem, escasso, instável, mas ao qual acedi, e é, hoje por hoje, onde estou. A morada que vos cedo para correspondência devia também dizer isto como extra, a substituir aqueles três últimos algarismos do código postal, por exemplo.

Havia aquele filme sobre uma guerra, as guerras, “Vem e vê”. Tal qual. Obrigado pela VISÃO ATENTA.

Seis mil palavras? Não. Quatro mil seiscentas e doze… treze.

Seis mil palavras - o início.

"Seis mil palavras. Será demasiado. E não é. Estou nesta casa há mais de três meses. No mês anterior corri uma dezena de hotéis da cidade do Porto. O primeiro trimestre desta gravidez está mais que feito. Decidi então fazer umas fotografias para documentar esta implosão. Porque se trata de uma implosão.

Tenho de explicar quem sou, suponho.

O meu nome está lá fora, na ficha de inscrição, ou lá como se chama. Tenho quarenta e seis anos. Por profissão médico. Trabalho numa grande unidade hospitalar desta cidade para onde agora vim viver. Cumpro com moderada lealdade as funções que ali me são confiadas. Num hino à mobilidade profissional, trabalho no mesmo sítio há vinte e um anos.

Tenho uma filha que vai fazer doze anos não tarda nada, e estou em subterrâneo processo de separação de um segundo casamento.

Porquê separação, porquê subterrâneo? Vejamos o subterrâneo. Quase ninguém sabe. Como se tivéssemos vergonha do acontecido. O nosso casamento não podia, não devia falhar. Eu sei que todos pensam isto. Portanto ninguém está preocupado. Há sempre uma paragem de autocarro onde nós, os que nos separamos, podemos apanhar o autocarro para longe da cidade dos casados. Encontramo-nos, dizemos “olá!”, o gajo ao lado pergunta o que foi, tu dizes “comi a vizinha do lado”, ele responde “fraude fiscal” ou “fiz testes de DNA ao meu filho de treze anos”… Bom, ninguém está à espera de me ver nesta famosa paragem de autocarro. É engraçado como somos colocados nestes papéis onde afinal quase tudo vem escrito, é como se fosse um contracto com o exterior, esse espaço imenso mas tão apertado, um palco afinal, onde estão os teus amigos, os teus colegas de trabalho, a família, o tipo onde compras os jornais, os restaurantes onde vais, o garagista, o barbeiro. E as luzes, os holofotes. Lá, no contracto, vem a tua obrigatoriedade de sucesso. Que sendo teu é também deles. Eles ganham um pouco contigo. E assim nos vamos sustentando, literalmente, ombro contra ombro, mirando um qualquer pôr-do-sol, agradecendo o aplauso final."

Dos casamentos já tidos algum apontamento.

A cada casamento a sua cerimónia. Cerimónia diz-se da pausa e da hesitação que se faz antes de comer. Casar também é um pouco isto, não?

O casamento não é a sua cerimónia. É a sua ilusão. Ilusão é outro nome dado à magia, ao truque. E há passes de magia que ficam no nosso olhar para todo o sempre. Não me restam fotografias de nada. Não importa. Trago comigo imagens de truques que foram feitos e onde o povo, a plebe, esses que hoje me declaram "louco" aplaudiram a bom aplaudir.

A fidelidade a esses tempos não é ter para sempre o carro estacionado no parque. É lembrar e admitir sem hesitação que ali fomos felizes, nem que por breves momentos. E que até esses breves momentos duraram bem mais do que isso.

Um casamento é uma história que se conta a quem nos acompanha e a quem acompanhamos. Por isso os amigos ali estão. Nunca se sabe como irá acabar. Espera-se sim que o enredo seja rico ou, utilitariamente para quem assiste, "enriquecedor". Sugestionados pelas hordas americanas de ficção, assumimos que "tudo vai acabar em bem". Mas porquê?

A magia não é, sabemos hoje, mais do que um truque, uma habilidade de gesto, um engano, uma esquerda que é direita, um desaparece e reaparece. O amor é isso, combustível que permite as mais improváveis habilidades. Fóssil porque prévio, e porque sabemos que o tempo dos combustíveis fósseis está a passar à história.

Resta-nos a força do vento, do mar, do sol, as tais energias renováveis, mas a urgência do truque, da ilusão não se compadece com baixas voltagens.

Por isso hoje as pessoas casam nos solares do Minho, compensando com o fausto de antigamente o pouco calor que emana das suas histórias pessoais. Acabam todos atirados à piscina do costume, e pouco mais acontece, eis um caso de magia que se afoga, como um par de gatos à nascença.

Casei, está casado o moço, está visto o que havia p'ra ver. Desfeito o que foi feito pelo tempo que tudo mói e desfaz, falta o resto.

Falo de  resto porque a vida, esta vida, é afinal uma simples conta de dividir que nunca dá certo. Eu dividido por... tu dividida por... a minha filha dividida por...

O resto, os vários restos, são o pó sobrante daquela magia original de que falei no início.

Cuidado ao pisar, este pó mantém-nos - um bocadinho - vivos...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

E parece que tenho pouco tempo...

"Atenção, que tens pouco tempo!" Para quê, dir-me-ás? Não, tenho muito tempo. O teu e o meu ideal não coincidem. Não ando à caça nem à pesca, as licenças vendidas há um bom tempo. Eu sei o que me dá hoje alimento.

Catrapiscar.

Agora sim, não nego, catrapisco...

"Onde estás és feliz?"

Não, mas onde estou é o único sítio em que estou bem. Parafraseando...
Aliás, sou amigo. Sempre que me perguntam se sou feliz, podia responder com um espelhinho para deflectir o raio laser e atingir quem me tentou atingir...

Da diferença a que temos direito.

"Sempre quiseste ser diferente!" Como se falássemos de um defeito, amiga! Querer ser diferente, neste país merdoso equivale nas por aqui cabecinhas - onde sabe que não a incluo - em querer ser, oh pecado, oh morte horrível! - a querer ser melhor, a querer sobressair, saltar para a primeira linha. Ora bolas! E ora não! Não quero ser melhor do que ninguém. Até porque não sou. Fazendo as contas bem feitas, tirando aqui e ali compondo, nem sou. Agora, sou diferente da manada, aí não falha. Não é querer... é saber o que se é, saber como resultou isto. Se eu quisesse ser diferente seria uma qualidade. Que eu nem precisei ter, certo? O mais, que se foda...

Não sou fácil.

Pois não. E?

A terceira dimensão.

Hoje disseram-me coisas que não posso deixar em claro. A idade, a idade...
"Porque tu és muito carente!"
Bom, vejamos bem... a palavra "carente" é uma palavra nojenta. Leva ao homicídio, ao assalto, à mentira como profissão de fé. Não curso para nenhuma destas águas. Posso carecer de algo que afinal nunca tive. Provavelmente terei que o encontrar em mim próprio, trabalho de casa que já devia estar feito. A auto-celebração devia ser ensinada nas escolas... A paz é o maior bem. Dela careço. E ficamos por aqui, ok? A um outro desafio que em foi feito responderei em Novembro, assim salte o graveto qb.
Caríssima amiga, tem de mim uma fotografia já com anos, antiga portanto e a duas dimensões. Nunca a mão penetrou e entrou à procura, o cacifo número três é assim que se encontra, lá está o tal livro de explicações que eu já estou cansado de facultar às gentes.

sábado, 25 de setembro de 2010

Dos futuros encontros.

Um bom amigo desejou-me, ou melhor, assegurou-me, que é outra forma de consolo, um bom futuro encontro com alguém do oposto sexo, e bem que ele sabe ser essa a minha pendular inclinação...
Caríssimo, asseguro-te, em doce e amiga contradição, que passados encontros tive já uns quantos e bons, uns estelares, outros estalados, outros ainda que só à estalada...
De pouca água e fervedor, atenho-me neste momento a leituras de pousio. E se esse Deus, que tu e eu sabemos não existir me permitir ainda muitos e bons anos  para boas leituras e boas miragens, eu provecto miragens elas, darei por cumprida esta minha inventada missão que é a de descobrir a verdade onde ela não existe, no amor, terreno que diferente se apresenta da pesca, da guerra, da caça, pois o mais habitual é mentirmos a nós mesmos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Os desenhos.

Da humanidade os mais antigos vestígios, quando saímos de longa viagem da pedra lascada para a pedra polida, são as pedras que nos enterram e as jóias que nos enfeitam.

E ali estavam. O desenho que os meus dedos fizeram um dia, ali. Noutro sítio o nó a duas cores que um dia uniu. Noutro sítio ainda o cautério de uma situação, buraco profundo, feito um sol, como não podia ser de outra forma. Ou ainda desenhos simples como as palavras que te queria dizer, curvas lentas e suaves como os possíveis silêncios que tudo tornam relativo e inofensivo.

Um mar de jóias. Que como sargaço aqui tinham dado à costa. Imagina-as sobre água a boiar. Imagina a escolha certa, o súbito refluxo de todas as outras peças para sobrar apenas uma, a não parar de mexer na pequena onda do mar próximo, como se indecisa, “…e apenas uma servia, e quem a envergasse…”, é deste pó que nascem os mitos, por aqui se vê claramente que as jóias não servem apenas para adornar.

As maiores jóias são como as melhores palavras, não complemento mas o próprio verbo.

domingo, 19 de setembro de 2010

Nada, nada.

“Quem estiver de acordo que levante o braço!” Esta frase dominou muitos anos os plenários dos tais partidos totalitários, onde uma opinião contra era impossível. Pelo contrário, nos partidos democráticos o voto era secreto. E é ainda.
Bom, e vem isto tudo a propósito de quê? Vistos e entrevistos, levantou-se o braço, piada muito particular. O braço levanta-o o náufrago para ultrapassar com os dedos da mão a linha da água e assinalar onde está: “Aqui, salvem-me!” E salvar-se. Seria o caso? Trazias os teus olhos de naufrágio contigo, eu reparei, nem vou pôr-me a inventar porque te erguias detrás daquela coluna de centro comercial e como por magia nos vimos, estarrecidamente, e levantámos os braços. Ou seria apenas o braço sustento da mão que sobe e diz: “presente!”. Sim, presente, é este um fim-de-semana como outro qualquer, os meus pés, repara como bem se arrastam, rentes ao chão – ao contrário dos semanais dias de emprego em jaula.
Sabemos bem a coragem de levantar o braço, já desde os tempos do liceu o alívio que dava quando era uma daquelas outras miúdas a levantá-lo e toma, a responder, a perguntar, a levar na tromba, whatever, e eu não.
Sim, levantemos o braço como quem nega, disfarça, desdenha outra qualquer medida de retenção na fonte das verdades mais íntimas que nos guiam. Sim, isso, levantemos o braço completo como quem nem repara, desconhece, abdica de o reconhecer como um levantamento válido.
Porque será outra a nossa formação e seriam secretos os nosso votos.

Na prática foram segundos. Um fácil trocadilho para quem nunca foi o primeiro em nada.




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Que não restem dúvidas.

Não há meio de conseguir que o relógio comprado no DeBorla funcione. Mas o tempo passa, corre, voa. Em 60 horas back to fuckin' work.
Mais tarde ou mais cedo haverá uma decisão definitiva. O jogo tem sempre um fim, não uma infinidade de prolongamentos. E haverá papéis a circular. The clock is indeed ticking. No OST but, there it is, I know!

Que não restem dúvidas, vem aí o Inverno.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Porque gosto da praia.

Porque gosto da praia?

Fui muito à praia em três períodos da minha vida.

O primeiro período foi na minha infância, com os meus pais, tios, primos, avós, etc. As boas referências não estão aqui, aqui não. Há postais, escassos postais que me são agradáveis. Outros nem por isso. Lembro melhor, com mais agrado, a estadia no Furadouro propriamente dito do que na praia do Furadouro. Brincadeiras como os meus primos num Furadouro antigo. Tempos idos de uma família alargada que eu mandei embora.

O segundo período foi o da minha adolescência, com os meus amigos de então, seguindo os rituais de estender toalha, brincar, ir à água, ver as miúdas, circular, ou então ficar pela esplanada, ir ouvir uma música a casa de… Aqui as referências também são mistas. Todos os amigos de então ainda o são, embora a muitos não lhes ponha a vista em cima há vinte e cinco anos… O misto está em que em muitos dos rituais acima ditos, eu não entrava bem, não entrava muito, ou não entrava. Não é este o momento ou o texto para enunciar as minhas limitações de então, que algumas até ainda cá estão! Mas passei óptimos bocados naquela praia e com aquela malta! Cresci com eles, vendo e aprendendo. Há flashes, pequenos vídeos, piadas memoráveis que ainda cá estão. Adiante.

O terceiro período coincidiu com uma fase chave na minha vida, e não aconteceu na praia que quase me viu nascer, nem aconteceu neste país. Durante seis meses morei ao pé de uma praia. De Fevereiro até Julho. Praia que comecei a frequentar – quê? -, em Junho para aí, e depois segui, até porque o meu trabalho naquela fase não me pedia muito. Trabalhava num hospital que olhava para a praia onde eu morava. Saia do trabalho a olhar para o meu destino. Tratava-se porém de uma praia de ria, não de mar, não havendo portanto as mesmas valências de entorno que eu tenho ultimamente encontrado nesta minha frequência da praia Azul, que -explico -, fica entre a Boa Nova e a praia do Aterro em Leça. O terceiro período foi espectacular. Também pela praia. Que acabou por ser um detalhe. Um objecto giro mais numa mesa a abarrotar deles, uma colecção inteira. Este período arrancou mal e terminou bem. O arranque passou bastante pela praia. Depois não.

Vivo onde não há silêncio. A cada minuto dezenas de carros rodeiam este apartamento, ouço-os neste preciso momento que escrevo, e já passa da meia-noite. Dizer que passam ao lado de é pouco, porque aqui a VCI encurva, e depois cede um braço para a Boavista e o Bessa e outro para a Circunvalação, Leixões e todo o Litoral Norte que se segue até Caminha. Falo de um rodear que é aquilo que eu faço quando volto donde seja para aqui. Rodeio. Em mais sentidos do que um. Não abraço. Bem queria.

Igual a praia que eu idolatro. Chego ao areal e logo o ronronar feliz do mar me envolve. Onda após onda ele entra na minha cabeça e vai removendo camadas e camadas de coisas que não interessam a ninguém mas que em nenhum outro sítio as consigo tão bem perder. Recebe o mar a ajuda adicional das crianças e das gaivotas.

Leio, paro de ler. Vou até ao mar comprovar o gelo em forma de água de que ele é feito. Pela areia húmida um rasto de sargaços, pois o mar dos mesmos não fica longe. Pedras que decidi coleccionar, roladas até à perfeição. Um pequeno grupo de rochas com dois ninhos de bivalves, mais longe outras rochas menos acessíveis estão cobertas deles, e de passaredo. Ainda anteontem admirei os seus voos rasantes à espuma que subia. Que bom é não pensar na companhia do amigo Oceano. O mar Oceano dos antigos. Daqui a dias vou perdê-lo. Para o frio, para o trabalho que volta, e voltarão as coisas inúteis a tomar conta da mim, inapelavelmente. Não importa. Sempre o som estará ali para ser ouvido, bastará buscá-lo, no fim de uma tarde, numa manhã de saída de turno. O som que reduz todos os outros à sua devida insignificância.

Poucos sons há melhores do que o silêncio. Este.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A prateleira inferior.


A prateleira inferior é a das toalhas.


E aproveito para falar do toalhão que aqui não está porque a uso, tem pelo menos quarenta anos, acompanha-me e envolve-me depois do banho desde a minha infância. É muito grande, por preguiça não me levanto para o medir e vos contar, um apenas discreto desbotar das cores, creme e castanho, um esboroar dos remates ainda só por aqui e por ali, o tempo não o impede de ter aquela espessura que em muitos toalhões não está, a obrigada espessura.

Sair do banho é um momento pouco valorizado. Necessita o envoltório correcto. O toalhão de que falo é o mordomo que nunca tive, o jornal à lareira impossível e o clube exclusivo que nunca frequentarei. Os outros toalhões são apenas sucedâneos, procuro sempre que sejam ao menos o maiores possível, o momento de depois do banho é portanto para mim um momento de alguma delicadeza.

Até porque ali ao lado um espelho vigia atento.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Uns amigos meus...

Uns amigos meus têm cá uma sorte...
Bom, ele é que é meu amigo, a ela conheço-a, cumprimenta-me...
Tomei café com ele ainda ontem e, da conversa tida e, também, de observações que fiz - ela trabalha comigo - e de coisas que me contaram - e eu tenho os meus informadores, aqui vai uma boa história.

O meu amigo tinha uma boa e saudável relação, já com bastantes anos em cima. Nunca tinha casado. Achava que não era preciso. Vivia com uma colega de trabalho - mesma profissão mas diferentes empresas - donde interesses similares, conversas paralelas, pouca discussão, sem dificuldades para planear os fins-de-semana, etc., etc. Ela tinha uma filha dum primeiro namorado, hoje com dezasseis, dezassete anos, com a qual o meu amigo tinha um óptimo relacionamento.
Bom, ele há dois anos conheceu alguém. Como? Vendeu-lhe um carro. Acontece que o stand fica do outro lado do trabalho dela - e meu. Por alguma razão na compra do carro, um SUV, deparou-se com algumas dificuldades. Papéis que voltavam para trás, assinaturas que o banco não reconhecia, datas complicadas, o meu amigo e ela tiveram que lidar um com o outro bastante tempo. Coisa que com o passar dos dias quase começaram a fazer ao pequeno-almoço, pois calhava que coincidiam na mesma pastelaria. Lenta mas gradualmente, aqueles pequenos-almoços passaram a ser algo mais do que isso. Pelo meio do croissant e da meia-de-leite ou do café pingado, iam comentando um ao outro o dia anterior, os eventos do dia presente, a dor de costas, o filme alugado. Até falavam de mim! Com o passar das semanas, o meu amigo reparou que na realidade, naquele pequeno espaço de vinte, trinta minutos, o seu dia ficava como que resumido, compactado, não restava mais nada para partilhar com ninguém, e assim era. Tudo o que acontecia e não tinha sido previsto ou mencionado entre duas trincadelas de croissant ou em dois sorveres de café, começava quase a ser para ele como uma peça fora de sítio.
Em três meses saiu da sua relação de anos, com a filha (dela) a referir-lhe, timidamente: "Olha, só agora?"
O meu amigo alugou um apartamento, mudou alguns hábitos na sua vida, tornou-se menos sedentário, perdeu peso, fez a barba, e depois, lentamente foi construindo a sua relação com a tal vendedora de automóveis. Que foi difícil de cozinhar. Gente nesta idade já não vai lá com duas tretas! Nem três... A situação terá estado tremida, mas eles estabilizaram uns meses depois numa solução que eu acho a ideal e afinal a adequada para estes tempos incertos, em que só viver es un arte.
Mantêm o sagrsado hábito do pequeno-almoço, às vezes acrescido do almoço no snack da esquina. Ao fim do dia segue cada um para o seu lado. Sabem bem ao que vai cada um, não têm segredos. Mas vão, e despedem-se até ao dia a seguir. Se acontece algo de excepcional telefonam-se, falam, falam. Senão, não. Igual nos fins-de-semana, onde circulam pelas respectivas famílias ou amigos ou eventos que queiram frequentar. Os interesses de um e de outro são aliás bem díspares, logo, junta-se a fuga ao inútil à plena evicção do desagradável.
De vez em quando fazem uma excepção. Dormem um no apartamento do outro, ele cozinha para ela, ela manda vir comida para ele. Consoante. Ela não gosta de cozinhar. Ele aprendeu recentemente. Dormem juntos. Vêm filmes. Falam para um mês. Estas noites acontecem para aí cada quinze dias, segundo ele me disse. Muito de vez em quando saiem de fim-de-semana. E o ano passado fizeram uma semana de férias juntos, não mais. Este ano ainda não decidiram.
Ele diz, e ela parece que afina pelo mesmo diapasão, que não acredita no amor de uma vida. Que "isto" é especial e só. Que tem quarenta e quatro anos e que este número por si "explica tudo". E que daqui a dez anos me telefona a contar afinal "como foi" e se "valeu a pena". Diz que ela faz amor muito bem, e que tem um dormir simpático. E que o "só de vez em quando" serve para assegurar que a temperatura da água esteja bem, que a lareira tenha a quantidade certa de madeira. Fora o vinho, a música... Outras vezes ele diz que nem há preparação nenhuma, nem se combina nada, só um telefonema a pedir abrigo, que se concede. Por outro lado eu noto nela uma enorme diferença desde que começou a tomar os pequenos almoços com o meu amigo. Cumprimenta-me...
Ambos acreditam em quase nada, e partilham um com o outro tudo. Ou quase. O que valha a pena. Claro que há aqui um difícil equilíbrio entre uma distância apreciável e um laço que está criado, uma dependência óbvia e assumida. Laço, armadilha. Dependência, divisão, parte de uma casa maior. E coisas há que os dividem. Dependienta, em espanhol, diz-se da criada. O risco parece-me que é evidente.
Invejo-os.

domingo, 29 de agosto de 2010

A prateleira do meio.

Caminho agora para a prateleira do meio. Desço, portanto.

Nem sempre viverei sozinho. Dias haverá onde serei responsável por alguém mais novo do que eu, mais concretamente alguém mais nova. Diga-se em abono da verdade que o julgar e o bom caminho da minha filha já me ultrapassa em sensatez umas quantas braças – medida náutica.

E, porém, não devemos dispensar um termómetro digital Pingo Doce, um Mini-Kit de primeiros socorros com a mesma origem, álcool etílico e pensos rápidos Hansaplast com desinfectante. A minha profissão, a vigilante maternidade anexa à criança e o pavor de que algo, mesmo que muito pequeno, lhe aconteça e a minha resposta sofra por defeito dá como insuficiente o enunciado acima. Faltam coisas.

Posta esta ressalva em texto, voltemos a restos capciosamente removidos de hotéis por onde se arrastou a minha miserável figura, a saber: um pente Sol Meliá, um kit de costura Silken. Uma esponja para sapatos GM, um pequeno sabonete Keiji que, descubro, é made in Portugal. Importa reforçar a ideia de que a remoção não foi por mim feita e que eu sou agora um beneficiário passivo da mesma, sendo pouco provável que estes itens alguma vez venham a ser utilizados. A minha revisão pessoal matinal não inclui um composto de gestos a que se possa chamar pentear. E por outro lado sou um fã recente das retoucheries, não esquecendo que tenho uma, contratada, a vir a minha casa várias vezes por semana… Acho fascinante a expressão “pequenos arranjos”, aliás quando tudo isto começou ainda pensei em pagar um café a uma das mulheres que trabalham nesses franchisings e pedir-lhes uma opinião, a ver se tudo isto se resolvia com um ou dois pequenos arranjos, na sua cara estão desenhados quilómetros de coisas por arranjar e que arranjadas foram; certamente elas podiam ter-me ajudado… Resumindo e regressando, alguém foi coleccionando e agora deixou-me parte da colecção e eu, nem bom dia nem obrigado, fica para a história mais este pequeno desarranjo, hoje um grande buraco na parede, bem maior do que um outro que me foi mal mostrado. Aceleremos.

E aproveito para passar aos sabonetes. Não uso gel de banho. Se uso, as coisas nunca correm bem. Não gosto, não me entendo com o mesmo. Acho o seu uso um desperdício de produto e de dinheiro. Alguém das minhas relações usava em tempos idos as zonas corporais pilosas – seria assim ou invento? – para fixar numa primeira abordagem uns excessos de gel que depois distribuía pelo resto do corpo. Como não me lembro de umas axilas descuidadas, algo falha neste recordatório. Isto lembra aquelas instruções onde só estão a primeira e a terceira páginas. Usará ela ainda esta mnemónica corporal? Os seios ainda serão assim de pequenos? O substantivo plural “relações” não enumera, não contabiliza, provoca um pequeno sorriso. Mas foi assim, alguém por uma vez deu-se ao trabalho de me explicar a sua técnica para o gel de banho! Sem êxito. Sabonetes temos então o Ach. Brito Maçã, o Agua Lavanda Puig e o Magno La Toja Classic, que tem a piada de ser negro e com um aroma bem mais agreste que os outros dois. Rodo, alterno, circulo. Não abdico de um sabonete no meu dia-a-dia. Vou insistir nos Ach. Brito porque é “fino”. Porque rima com este sítio onde agora moro, essas merdas. Insensível a estes pequenos estímulos na epiderme? Não, embora disfarce. Questões de encaixe, velhas questões, nunca resolvidas. Para este e para o outro lado, giro e rodo testando todos os encaixes, vejo-me sempre como se fosse uma grande e enorme peça à procura do seu lugar no grande lego do mundo, eis como vai ser difícil esta história do estar sozinho, se até a compra do mísero sabonete conta…

Logo atrás uma floresta de lâminas para barbear: levará uns anos antes que as esgote. Idem as espumas de barbear, escolhas assépticas, Sanex, Oriflame Sensitive e La Toja. Perto de La Toja fui assaltado, em La Toja tenho fotos com os meus pais, era eu como criança um caso sério não sei bem do quê. Sei hoje que La Toja é A Toxa, em galego. Como assim não vendia, o produto mantém o castelhano apelido, igual a memória familiar e o assalto. Com algum cuidado poderia levar alguma destas espumas de barbear ainda por gastar para a cova.

Finalmente um estojo de cuidados oferecido por quem já não vive, hoje incompleto e desde sempre subutilizado. Tem instrumentos que nunca utilizei e mal conheço como se utiliza. Estojo que porém contém como adição um Victorinox Swiss Card, onde pontifica… um palito de plástico (será?).

Ah, a máquina de barbear. Costuma acontecer um período do ano em que a uso, como se fosse um rash, por agora esse período do ano ainda não aconteceu. Porquê? Longos anos levo iludindo esta magna questão de ser eu basicamente um tipo preguiçoso, e nunca consegui desmentir o que por aí consta cuidando por um período que se pudesse chamar de “amplo” a minha barba.

Adiante.

Telefonema.

E ora diz-me tu o que faria eu neste preciso momento em Santarém se sei tudo sobre Santarém!

sábado, 28 de agosto de 2010

O escritor ciclista.

Hoje li um artigo na última página do El País sobre Miguel Delibes, morto este ano. Costumava o escritor dizer que tinha morrido muitos anos antes, em 1974, ano da morte da sua esposa.
Li o artigo, reli-o. Não conseguia sair da página. Porquê? De alguma forma eu choro uma morte assim de parecida. Muito parecida.
Bom, isto embora eu nunca tenha lido Delibes, que também era um aficionado do ciclismo. A sua família comemora o falecido pazendo um muitop longo passeio de bicicleta.
Algo de que estarei sem dúvida livre pois a bicicleta não é o meu forte e a minha descendência escassa.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A prateleira de cima.

Revela-se um homem pelos objectos que acontecem na sua casa de banho? Não sei. Se sei pouco sobre as mulheres menos ainda sei sobre os homens, seres que muito pouco me têm preenchido a existência, principalmente no que a divisões interiores diz respeito. Sei que estou a ser injusto com algumas amizades, mas desconheço as suas casas de banho. Portanto, aqui vamos.

Estamos a falar de um móvel metálico prático e que foi de fácil montagem. Com rodas. Com três prateleiras.

E a prateleira superior será talvez a mais reveladora. Pretende ser a de mais imediato acesso, de uso diário. Compreende perfumes, loções para depois da barba, medicações, desodorizante e umas poucas de coisas mais.

Eis uns lenços de papel do Hotel Avenida, de A Coruña. Hotel de entrada na cidade bem apessoado, pena o pequeno almoço ser-nos servido todos os dias manhã bem cedo pela evidente comuinicação do exaustor da cozinha com o guarda-vestidos do quarto onde fiquei.
Esta minha necessidade de lenços de papel é recente e advém duma sinusite crónica que me apareceu ultimamente. Várias coisas apareceram-me ultimamente: tu, esta sinusite, a vontade de voltar a fumar à medida que a memória da operação de 2004 se desvanece… O certo é que não necessito de mais do que um cigarro por dia, estando esta condição abundantemente preenchida por vários nós na minha cabeça, eu sei que nunca fumarei mais de um cigarro por dia, com tendência para o fim do dia quando a enormidade do disparate da ausência de sentido aumenta até níveis difíceis de aguentar.

Para a sinusite cá está o Pulmicort, preparado corticóide de aplicação nasal que, teoricamente, melhora os sintomas de congestão, opressão auditiva e cefaleia orbital que a sinusite vai causando. Confesso que a relação de causa-efeito entre o usar esta medicação cordial e cordatamente e a resolução pelo menos parcial dos sintomas ainda é para mim um mistério. Aliás parece-me ter este run de doenças que me tem atingido nestes anos um componente psicossomático pelo menos possível, logo pouco sensível a medicação que apenas o seja, anti-inflamatória e isso.

Ao lado paracetamol em cps. de 500 mgs. Continuando no arquipélago dos achaques, sofro de cefaleias de tensão desde – quando? – e estas resolvem-se com um grama de alguma coisa, habitualmente paracetamol. Não sei bem porquê, implicam também congestão nasal, cefaleia orbitaria unilateral muito forte com a iminente sensação de “olho a explodir”, incapacidade de estar deitado. Habitualmente isto implica sessão televisiva nocturna e adormecer em sofá a 45 graus, com o resolver progressivo dos sintomas. Acontece que agora não tenho nenhum sofá. Estas cefaleias precedem no meu historial a sinusite, ou talvez não, a sinusite só existindo a partir do momento em que oficialmente foi diagnosticada o ano passado. Isto só acrescenta às minhas suspeitas de causalidades mistas e nebulosas em todas estas merdas, claro que sendo difícil o diagnóstico diferencial pois implicaria eu durante algum tempo “estar bem da cabeça”, e o cinema Batalha está por abrir há anos. Viver é não saber.

Por outro lado eis várias pequenas embalagens de soro fisiológico de 10 cc com origem num passado recente e cujo destino seria também o alívio das minhas fossas nasais quando estão em fase não de nasais mas sim sépticas. Estamos a falar de métodos e procedimentos cruentos, de utilidade que eu decreto como discutível, e onde eu corria o risco de extinguir, por dias que fosse, a possibilidade de me queixar de ter uma sinusite, algo que sempre dá conversa e fornece companhia. Deixá-la andar por aqui, em conclusão. Fechou o psicossomatismo por hoje. E assim estamos.

Ainda de origem provavelmente hoteleira mas que eu não consigo localizar está um conjunto escova e pasta de dentes em boião muito pequeno, boião não, tubo, peço desculpa. Serve para lembrar que trabalho por turnos, donde a necessidade destas vitualhas. Quando saio de trabalhar pela manhã gostaria de não falar com ninguém e apenas desaparecer, deixando por escrito as intercorrências e a projecção do futuro dos meus doentes, se algum futuro for possível destinar-lhes. Mas não, há que falar com quem vem, vigilante.

Lógica diferente aplica-se ao grande frasco de elixir Oral B, que uso em paroxismos de higiene oral uma a duas vezes por ano, durante uma a duas semanas diariamente. Não tem sido o caso nestes últimos meses, também porque no que a beijos diz respeito tenho estado off duty. Por falar nisto, está por nascer a expressão “bom hálito”, não é? Nunca ouvi alguém comentar “o Sérgio é um tipo engraçado, e até tem um bom hálito, apetece falar com ele, perfuma o ambiente”. Seria engraçado ao falar com alguém cumprimentá-lo referindo “hoje morango, hã?”. As “sunset surprise” não cumprem integralmente estes objectivos.

As loções para depois da barba ocupam um espaço vital e importante desta prateleira, resultando do facto do meu escanhoado ser apenas ocasional. Logo, vou acumulando e adicionando frascos e frascos de after shave que são comprados no momento mesmo da decisão de barbear, no impulso, resumindo. Há um mais antigo que tem origem Oriflame, ainda antes mesmo desta marca ser um negócio familiar. Nome Glacier. Oriflame é uma marca sueca, e vem mais uma vez demonstrar com esse país nórdico conseguiu penetrar nas nossas almas e nos nossos corações. Oriflame, Ikea. Volvo. Finlândia? Nokia. Noruega? Bacalhau. Dinamarca? Carlsberg, Tuborg e Lego. Fim de despiste. Depois, o Adolfo Dominguez adquirido num supermercado espanhol, afinal um resquício de fidelidade a um tempo e um modo ou, o que é o mesmo, uma pequena prova em como eu não sei morder a mão que. E finalmente uma amostra também de hotelaria ainda por encetar e cuja origem se perdeu no fio dos tempos.

Mais espaço ainda é dedicado às “eau de toilette”. Primeiro arrumo com as origens do escaparate descansando a proveniência dos itens a descrever em ofertas desinteressadas, mais ou menos. Por exemplo, o Jean Paul Gaultier, cuja forma do frasco, hips and torso, agrada-me mais do que a fragância. Não me lembro de onde partiu esta engraçada embalagem. Mais? O Pancaldi tem uma velha história que mete partilha de cacifos. Demasiado velha para ainda ter significado. Ilustra a capacidade que eu então tinha para me adornar como hoje não tenho. Adornar, que também pode querer dizer meter água e ir ao fundo. O Fahrenheit é de C Dior e disseram-me uma vez que era muito sexy. Lembro o atrás referido, mais ou menos, mais ou menos. Como as terras de cultivo, está em pousio. Égoïste de Chanel tem para mim o melhor nome, e por isso mesmo o prefiro. O egoísmo como hipótese de trabalho ou diagnóstico adequado. Uso escassamente. Assim portanto declaro que não percebo nada destas merdas, que tudo fica confuso porque eu sei quem lembro ao usar esta ou aquela, este ou aquele produto, decidam o sexo do tema. Fico pelo perfume cujo nome acho que é mais meu: Égoïste. O egoísmo como um ficheiro que se descobriu recentemente e que está em revisão.

Ah, o desodorizante é Yves Rocher, Jardins du Monde. Recomendaram-mo, e eu levei a recomendação a sério. Pobre de mim! Agora a sério, acho que me enganei, o que eu queria mesmo comprar era Rex…